O Brasil concentra uma diversidade biológica sem paralelo, com relevância direta para cadeias produtivas estratégicas e ecossistemas altamente relevantes para o equilíbrio climático global. Toda essa biodiversidade consiste em uma infraestrutura ecológica que sustenta fluxos econômicos, alimenta cadeias de inovação e fornece suporte material a sistemas complexos como saúde, energia e produção de alimentos.
Para o IBGC, sustentabilidade é um dos pilares da boa governança, ou seja, é uma diretriz que, dentro do conceito da bioeconomia, exige da alta administração uma atuação estratégica capaz de conectar uso responsável da biodiversidade com geração de valor duradouro e legítimo.
A chamada bioeconomia, embora ultimamente venha sendo tratada como tendência, é uma construção em ainda em curso, pois envolve desde atividades consolidadas, como o agronegócio e a biotecnologia, até sistemas menos formalizados, mas com alto potencial de valor agregado, como as cadeias produtivas baseadas na sociobiodiversidade. Assim, temos uma dinâmica que combina produção, processamento e distribuição articulados a partir de conhecimentos tradicionais, manejo adaptativo e inserção territorial.
A institucionalização da Estratégia Nacional de Bioeconomia, formalizada em 2024, consiste em um marco importante sobre o tema. O modelo proposto extrapola o conceito de exploração racional de recursos e assume a biodiversidade como base de um projeto de desenvolvimento orientado por critérios distributivos, integridade ecológica e integração entre saberes locais e ciência aplicada.
Bioeconomia na Amazônia: integração territorial e redesenho produtivo
Para que haja uma bioeconomia funcional na Amazônia é necessário organizar as prioridades. A lógica de expansão extrativa precisa ser substituída por uma arquitetura econômica ancorada na permanência da floresta e no fortalecimento das comunidades que a habitam. Isso não se resolve com programas pontuais, mas com políticas de longo prazo, instrumentos financeiros adequados e mecanismos de mercado desenhados para ambientes de alta diversidade biológica e sociocultural.
A estruturação de cadeias baseadas em restauração, extrativismo de baixa interferência, produção florestal sustentável e agroecologia depende da articulação entre empresas, centros de pesquisa, governos e populações locais. Isso requer ações institucionais capazes de suportar inovação em ambientes ainda pouco explorados, repartição equitativa de benefícios e reconhecimento das estruturas sociais já presentes nos territórios.
Riscos de inércia diante de um cenário em reconfiguração
A ideia de crescimento sobre uma base natural finita já não sustenta análises minimamente responsáveis. O avanço da emergência climática e o colapso de ecossistemas produtivos revelam os limites de modelos que desconsideram variáveis socioambientais. A estabilidade econômica das empresas passa a depender de sua capacidade de operar dentro de parâmetros ecológicos concretos.
Desse modo, não se trata apenas de risco regulatório ou reputacional, mas de acesso a mercados, capital e tecnologias. Daí a necessidade de as organizações analisarem os impactos reais de suas operações sob pena de perder margem competitiva e reduzir sua capacidade de se reposicionar diante de novas exigências de governança global, inclusive no acesso a linhas de financiamento condicionadas a critérios ESG.
Em paralelo, o Brasil possui um estoque subutilizado de soluções com base ecológica e negócios que negociam produtos da floresta, ingredientes bioativos, rotas biotecnológicas, ativos naturais, mercados voluntários de carbono, turismo de natureza e concessões ambientais. No entanto, o desafio não é apenas identificá-los, mas integrá-los a cadeias formais e ampliar seu raio de impacto econômico.
A bioeconomia como vetor estratégico de governança
Segundo o IBGC, a sustentabilidade deve ser integrada às funções essenciais dos conselhos. Isso implica lidar com a biodiversidade como variável estrutural do negócio, e não como questão reputacional. O reposicionamento estratégico exige conselhos preparados para lidar com interdependências complexas, restrições ecológicas e oportunidades de inovação radical.
O processo de reposicionamento envolve revisão de modelos operacionais, reconfiguração de cadeias de suprimentos, incorporação de critérios socioambientais nos ciclos de investimento e definição de métricas que reflitam o valor real da biodiversidade como ativo. Em outras palavras, é preciso pensar produtos, serviços e mercados a partir de uma lógica regenerativa e distributiva.
As empresas com presença em territórios ecologicamente sensíveis ou com cadeias que dependem direta ou indiretamente de ativos biológicos precisam internalizar essa agenda nos núcleos de decisão estratégica. A omissão dessa pauta em instâncias deliberativas compromete a capacidade da organização de antecipar riscos e capturar valor em mercados que caminham para uma economia de baixo carbono e alto controle socioambiental.
O papel do conselheiro, nesse contexto, é tensionar a estratégia em direção a modelos que conciliem retorno financeiro com permanência territorial, geração de renda local e uso sofisticado da biodiversidade. Isso envolve avaliar a viabilidade de negócios conectados à conservação, mobilizar instrumentos de fomento, atrair parcerias institucionais e acompanhar indicadores que reflitam performance com consistência.
A bioeconomia deve ser parte estrutural do planejamento corporativo, alinhando decisões de curto prazo a uma lógica de perenidade econômica ancorada na funcionalidade dos ecossistemas. O ponto é sensível pois envolve tanto a ética, mas também uma exigência estratégica para empresas.
Conclusão
A sustentabilidade deve estar no centro da governança corporativa, e, diante do potencial da bioeconomia, isso implica repensar a atuação das empresas como agentes que conciliam desempenho econômico com compromisso real com a conservação e a inclusão.
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