Recentemente, li a respeito do resultado do experimento conduzido pela Reader´s Digest denominado “The Lost Wallet Experiment”, acredito que realizado em 2013, e fiquei muito surpresa com o resultado de alguns países. Então, resolvi comparar com o Índice de Percepção de Corrupção da Transparency International de 2017 com intuito de prover algumas reflexões.
Primeiramente, cabe esclarecer o propósito de cada resultado/estudo. No que tange ao “The Wallet Experiment”, este visa identificar o nível de honestidade de uma determinada população e para tanto, foram selecionadas 16 cidades espalhadas por todos os continentes, nas quais 12 carteiras devidamente identificadas e com equivalente a 50 dólares na sua moeda foram “perdidas” totalizando assim 192 carteiras. No entanto, o Índice de Percepção de Corrupção (IPC) é com base em opiniões de especialistas, e por meio do IPC mede-se os níveis de percepção de corrupção no setor público em todo mundo, criando-se um mapa comparativo dos países (menos e mais corrupto).
Neste contexto, cabe ponderar que o 1º atuou diretamente no comportamento subjetivo, independentemente da ocupação profissional, aspectos socioeconômicos, dentre outros. Por sua vez, o 2º estudo atua no âmbito institucional público, o Estado, que tem o dever de guiar seu povo, prover condições essenciais e dignas de subsistência, como também praticar e disseminar os bons princípios preservando sempre o bem comum.
Ulterior a consideração supracitada, existem convergências e discrepâncias nos resultados, que aproximam a conduta da população e a do seu Estado, como também as distanciam, respectivamente, a saber:
(1) Duas convergências claras e positivas são: a Finlândia, que ocupa o 1º lugar no “The Lost Wallet Test” e o 3º lugar no IPC; e, Amsterdã, que ocupa 4º no “The Lost Wallet Test” e 8º no IPC, entende-se que Estado e população são considerados íntegros.
(2) Duas discrepâncias, que cabe uma análise e questionamento mais profundo, a Índia em 2º lugar no “The Wallet Test”, onde 9 carteiras foram devolvidas das 12 perdidas, por sua vez, no que se refere ao setor público, este país ocupa o 81º lugar e na contramão está Portugal, de forma mais evidente, por ter ocupado o último lugar no “The Lost Wallet Test”, sendo que apenas 1 carteira foi devolvida, contudo se destaca com IPC de 29º, muito bem classificado.
Um estudo sociológico seria mais adequado para entender o distanciamento do comportamento do indivíduo em frente ao Estado, seja ele positivo ou negativo. Trata-se de um comportamento histórico-cultural?
É certo, que em Portugal houve mudanças econômicas relevantes ao longo dos últimos anos, talvez o país estivesse enfrentando uma crise econômica grave, proporcionando esse comportamento no ano da pesquisa e por isso esse resultado? Por outro lado, a Índia, um país com níveis de extrema pobreza, se destacou positivamente em 2º lugar, no “The Wallet Test” ou seja, independente do aspecto econômico, a população pactua de valores éticos.
Um estudo convergindo condutas do Estado e de seus cidadãos é muito valioso, principalmente, quando o povo clama por justiça, igualdade e combate à corrupção.
O Brasil que exporta o tão conhecido “jeitinho brasileiro”, foi mal classificado nos dois resultados, tanto a população quanto o Estado precisam se esforçar para melhorar suas condutas.
Trazendo para realidade da empresa, a estrutura corporativa tem que ser robusta para atender a sua realidade, prevendo os melhores mecanismos de governança, mas o destaque continua sendo PESSOAS. É para a contratação dos seus profissionais, que os faróis deverão ficar acessos! Não há o que se discutir quanto à questão técnica, trata-se de algo objetivo e que deve atender às exigências da função. O ponto fundamental é o aspecto subjetivo, a essência do indivíduo, seu comportamento social, suas ponderações, sua atitude perante uma situação de conflito ou de dificuldade.
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